Escola Classe Café Sem Troco adota modelo inovador para integrar alunos imigrantes – Secretaria de Estado de Educação

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Unidade acolhe jovens da comunidade Warao Coromoto, etnia indígena de venezuelanos refugiados


Por Adriana Izel, da Agência Brasília | Edição: Débora Cronemberger


 


A vivência de Wilde Zapata, 17 anos, é semelhante. A escola em Brasília foi a segunda à qual ele teve acesso. Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília


 


O espanhol se tornou um idioma comum nas salas de aula, nos corredores e no pátio da Escola Classe Café Sem Troco, localizada na região rural do Paranoá. É rotineiro escutar saudações como “buenos días” e “buenas tardes” ao circular pela instituição. As frases são ditas tanto pelos estudantes venezuelanos, que integram a comunidade escolar há três anos, quanto pelos alunos brasileiros.


 


A inclusão da língua no dia a dia do colégio faz parte das estratégias de integração das crianças e dos adolescentes da comunidade Warao Coromoto, etnia indígena católica da Venezuela composta por 38 grupos de famílias e 158 pessoas que vivem em Brasília desde 2023. Eles representam cerca de 50 estudantes dos quase 500 da escola.


“Tivemos várias mudanças até chegarmos ao formato que temos hoje, mas foi dando certo com muito carinho, amor e paciência”, diz a professora Maria Janerrandra Fogaça | Fotos: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília


 


De acordo com a Secretaria de Educação (SEEDF), a rede pública do DF conta com 1.654 estudantes migrantes internacionais matriculados. A maioria está no ensino fundamental, um total de 1.130. Mas também há estudantes registrados no ensino médio (246), na educação infantil (178) e na Educação de Jovens e Adultos (100). Plano Piloto, São Sebastião, Taguatinga, Ceilândia e Paranoá são as regiões com a maior concentração de alunos imigrantes.


 


Desde o ano passado, o idioma está entre as disciplinas regulares dos alunos do ensino infantil ao 5º ano do ensino fundamental. As aulas são ministradas por estudantes de letras – espanhol da Universidade de Brasília (UnB), em um projeto parceiro com a escola da rede pública de ensino do Distrito Federal.


 


As escolas costumam ter o espanhol apenas no ensino médio. A proposta aqui é trazer desde a base como forma de conexão. Com esse projeto, já estamos vendo as crianças brasileiras falando em espanhol com os imigrantes. Isso mostra que o espanhol está abrindo as portas de integração para que eles possam se comunicar. Esse é o ponto que pretendemos chegar: que está seja uma comunidade hispanohablante”, explica o estudante de letras espanhol da UnB Thiago Cardozo, que atua como educador social na EC Café Sem Troco.


 


Acolhimento e inclusão

 


A nossa escola sempre teve um perfil de integração. Fomos a primeira escola rural a ter uma classe especial para alunos com deficiência. Quando ficamos sabendo que havia um grupo de refugiados, fomos conhecê-los e, quando veio o chamado do Ministério Público, colocamos uma parede provisória e eles vieram”, lembra a diretora da EC Café Sem Troco, Sheyla Passos.


 


Sheyla Passos diz que a primeira medida, na EC Café Sem Troco, foi criar uma rede de apoio e acolhimento para o grupo de refugiados


No primeiro dia, apareceram mais de 30 alunos de diferentes idades. A primeira medida foi criar uma rede de apoio e acolhimento para estudantes e familiares. “Colocamos todos numa mesma sala, num primeiro momento, não por rejeição, mas para que eles se sentissem protegidos, porque tínhamos alunos de 17 anos com a mesma escolaridade de outro com 4 anos. Muitos nunca haviam pisado numa escola. Alguns só falavam o warao, que é a língua nativa deles. Eram muitos desafios”, recorda.


 


Desafios esses que a professora Maria Janerrandra Fogaça sentiu na pele. “Vim exatamente porque eu já falava espanhol. Mas quando cheguei foi muito diferente do que eu esperava. Eu fazia determinada atividade e alcançava um grupo, mas não alcançava outro. Com o tempo fomos entendendo que era preciso separar os estudantes em grupos. Tivemos várias mudanças até chegarmos ao formato que temos hoje, mas foi dando certo com muito carinho, amor e paciência”, conta.


 


Após o primeiro ano de adaptação, os alunos venezuelanos passaram a ser divididos em grupos. São quatro dentro da mesma sala de aula comandada por Janerrandra com auxílio de educadores sociais, com estudantes com idades mais avançadas. Já os mais jovens estão integrados às turmas regulares do ensino infantil e do 1º, 2º e 5º ano do ensino fundamental. Além disso, todos fazem as aulas de espanhol na mesma classe que os colegas brasileiros.


 


A fase do acolhimento já foi feita. Hoje estamos na fase da integração. Os menorzinhos já estão na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental seguindo a idade cronológica. Infelizmente, os maiores não conseguimos fazer essa integração, mas já estamos os preparando para o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), para que eles possam se integrar ao ensino médio. Nosso desejo é ter a EJA (Educação de Jovens e Adultos) Interventiva para que possamos ofertar de forma diurna e acelerar o processo de aprendizagem desses alunos”, completa a diretora Sheyla.


 


Transformação e oportunidades

Wilde Zapata e Santa Eduviges Pacheco Lorenzana adoram estudar matemática


 


Foi só quando chegou ao Café Sem Troco que a jovem Santa Eduviges Pacheco Lorenzana, 16, teve contato com a escola. E estudar logo se tornou a atividade preferida da menina, que adora matemática. “Gosto muito de estudar. Outra coisa que gosto muito aqui no Brasil é a comida, mas sinto muita falta da outra parte da minha família que ficou na Venezuela”, comenta.


 


A vivência de Wilde Zapata, 17 anos, é semelhante. A escola em Brasília foi a segunda à qual ele teve acesso. “A primeira vez que eu estive dentro de uma sala de aula foi há seis anos em Roraima. Essa é a segunda escola em que estive na vida”, revela. Mesmo assim, ele tem se destacado. Autodidata, o menino já aprendeu a ler em português e também tem tido bons resultados em matemática. Dos seis irmãos de Wilde, cinco também estudam na EC Café Sem Troco. “É uma família muito presente. O pai sempre manda mensagem perguntando como eles estão e avisa quando eles faltam”, acrescenta a professora Maria Janerrandra.


 


Além de gostar do acesso ao conhecimento, Wilde aponta a alimentação escolar como outro ponto favorito ao ir à escola. “Gosto muito da escola. Gosto de estudar matemática e gosto da comida. Meu prato favorito é a galinhada”, diz. “A grande diferença entre a nossa vida na Venezuela e no Brasil é que aqui temos dinheiro e alimentação”, completa.


O cacique Eduardo Baez diz que foi necessário vir para o Brasil para ter mais qualidade de vida. “Estamos vivendo melhor. Há alimentação, educação. A educação é muito importante para que eles aprendam, tenham um futuro”, afirma


 


Para o cacique da comunidade Warao Coromoto, Eduardo Baez, a oportunidade que as crianças estão tendo no Brasil de acesso à educação tem sido de extrema importância. “A nossa vida no Brasil é muito boa. Fomos obrigados a sair da Venezuela por causa da escassez. Não havia medicamentos. Não havia mais comida. Não aguentamos mais. Então decidimos por iniciativa própria vir para o Brasil e tem sido muito bom. Estamos vivendo melhor. Há alimentação, educação. A educação é muito importante para que eles aprendam, tenham um futuro. Queremos que eles possam ter carreiras de alto nível, quem saber, serem professores”, deseja.


 


Rede de proteção integrada

 


A rede de proteção aos migrantes envolve várias pastas do GDF. A Secretaria de Educação conta com a Política Distrital de Proteção e Direito de Matrícula de Crianças Migrantes, Refugiadas, Apátridas e Solicitantes de Refúgio , que garante o direito à matrícula imediata de crianças migrantes e refugiadas de 4 meses a 6 anos em creches e escolas públicas, mesmo sem documentação completa.


 


A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) é responsável pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) Migrantes. Localizado no Setor Bancário Norte, o equipamento atende famílias e indivíduos que sofrem violação de direitos em razão da questão migratória, auxiliando na documentação, concedendo benefícios e dando suporte nas áreas de empregabilidade e educação.


 


A Secretaria de Justiça e Cidadania, por exemplo, atua por meio da Gerência de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Apoio ao Migrante (Getpam), com ações como o projeto Vivência Delas, voltado à escuta qualificada de mulheres imigrantes, e o Cidadania nas Escolas, que combate a xenofobia por meio de palestras e formação.


 


Já a Secretaria de Saúde elaborou o Guia de Acolhimento aos Migrantes, Refugiados e Apátridas nos Serviços de Saúde do DF, que orienta os estrangeiros sobre como acessar o Sistema Único de Saúde (SUS) e seus serviços.


 


14/07/2025 - Escola Classe Café Sem Troco adota modelo inovador para integrar alunos imigrantes


 




 








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Escola Classe Café Sem Troco adota modelo inovador para integrar alunos imigrantes – Secretaria de Estado de Educação

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Unidade acolhe jovens da comunidade Warao Coromoto, etnia indígena de venezuelanos refugiados


Por Adriana Izel, da Agência Brasília | Edição: Débora Cronemberger


 


A vivência de Wilde Zapata, 17 anos, é semelhante. A escola em Brasília foi a segunda à qual ele teve acesso. Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília


 


O espanhol se tornou um idioma comum nas salas de aula, nos corredores e no pátio da Escola Classe Café Sem Troco, localizada na região rural do Paranoá. É rotineiro escutar saudações como “buenos días” e “buenas tardes” ao circular pela instituição. As frases são ditas tanto pelos estudantes venezuelanos, que integram a comunidade escolar há três anos, quanto pelos alunos brasileiros.


 


A inclusão da língua no dia a dia do colégio faz parte das estratégias de integração das crianças e dos adolescentes da comunidade Warao Coromoto, etnia indígena católica da Venezuela composta por 38 grupos de famílias e 158 pessoas que vivem em Brasília desde 2023. Eles representam cerca de 50 estudantes dos quase 500 da escola.


“Tivemos várias mudanças até chegarmos ao formato que temos hoje, mas foi dando certo com muito carinho, amor e paciência”, diz a professora Maria Janerrandra Fogaça | Fotos: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília


 


De acordo com a Secretaria de Educação (SEEDF), a rede pública do DF conta com 1.654 estudantes migrantes internacionais matriculados. A maioria está no ensino fundamental, um total de 1.130. Mas também há estudantes registrados no ensino médio (246), na educação infantil (178) e na Educação de Jovens e Adultos (100). Plano Piloto, São Sebastião, Taguatinga, Ceilândia e Paranoá são as regiões com a maior concentração de alunos imigrantes.


 


Desde o ano passado, o idioma está entre as disciplinas regulares dos alunos do ensino infantil ao 5º ano do ensino fundamental. As aulas são ministradas por estudantes de letras – espanhol da Universidade de Brasília (UnB), em um projeto parceiro com a escola da rede pública de ensino do Distrito Federal.


 


As escolas costumam ter o espanhol apenas no ensino médio. A proposta aqui é trazer desde a base como forma de conexão. Com esse projeto, já estamos vendo as crianças brasileiras falando em espanhol com os imigrantes. Isso mostra que o espanhol está abrindo as portas de integração para que eles possam se comunicar. Esse é o ponto que pretendemos chegar: que está seja uma comunidade hispanohablante”, explica o estudante de letras espanhol da UnB Thiago Cardozo, que atua como educador social na EC Café Sem Troco.


 


Acolhimento e inclusão

 


A nossa escola sempre teve um perfil de integração. Fomos a primeira escola rural a ter uma classe especial para alunos com deficiência. Quando ficamos sabendo que havia um grupo de refugiados, fomos conhecê-los e, quando veio o chamado do Ministério Público, colocamos uma parede provisória e eles vieram”, lembra a diretora da EC Café Sem Troco, Sheyla Passos.


 


Sheyla Passos diz que a primeira medida, na EC Café Sem Troco, foi criar uma rede de apoio e acolhimento para o grupo de refugiados


No primeiro dia, apareceram mais de 30 alunos de diferentes idades. A primeira medida foi criar uma rede de apoio e acolhimento para estudantes e familiares. “Colocamos todos numa mesma sala, num primeiro momento, não por rejeição, mas para que eles se sentissem protegidos, porque tínhamos alunos de 17 anos com a mesma escolaridade de outro com 4 anos. Muitos nunca haviam pisado numa escola. Alguns só falavam o warao, que é a língua nativa deles. Eram muitos desafios”, recorda.


 


Desafios esses que a professora Maria Janerrandra Fogaça sentiu na pele. “Vim exatamente porque eu já falava espanhol. Mas quando cheguei foi muito diferente do que eu esperava. Eu fazia determinada atividade e alcançava um grupo, mas não alcançava outro. Com o tempo fomos entendendo que era preciso separar os estudantes em grupos. Tivemos várias mudanças até chegarmos ao formato que temos hoje, mas foi dando certo com muito carinho, amor e paciência”, conta.


 


Após o primeiro ano de adaptação, os alunos venezuelanos passaram a ser divididos em grupos. São quatro dentro da mesma sala de aula comandada por Janerrandra com auxílio de educadores sociais, com estudantes com idades mais avançadas. Já os mais jovens estão integrados às turmas regulares do ensino infantil e do 1º, 2º e 5º ano do ensino fundamental. Além disso, todos fazem as aulas de espanhol na mesma classe que os colegas brasileiros.


 


A fase do acolhimento já foi feita. Hoje estamos na fase da integração. Os menorzinhos já estão na educação infantil e nos primeiros anos do ensino fundamental seguindo a idade cronológica. Infelizmente, os maiores não conseguimos fazer essa integração, mas já estamos os preparando para o Encceja (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos), para que eles possam se integrar ao ensino médio. Nosso desejo é ter a EJA (Educação de Jovens e Adultos) Interventiva para que possamos ofertar de forma diurna e acelerar o processo de aprendizagem desses alunos”, completa a diretora Sheyla.


 


Transformação e oportunidades

Wilde Zapata e Santa Eduviges Pacheco Lorenzana adoram estudar matemática


 


Foi só quando chegou ao Café Sem Troco que a jovem Santa Eduviges Pacheco Lorenzana, 16, teve contato com a escola. E estudar logo se tornou a atividade preferida da menina, que adora matemática. “Gosto muito de estudar. Outra coisa que gosto muito aqui no Brasil é a comida, mas sinto muita falta da outra parte da minha família que ficou na Venezuela”, comenta.


 


A vivência de Wilde Zapata, 17 anos, é semelhante. A escola em Brasília foi a segunda à qual ele teve acesso. “A primeira vez que eu estive dentro de uma sala de aula foi há seis anos em Roraima. Essa é a segunda escola em que estive na vida”, revela. Mesmo assim, ele tem se destacado. Autodidata, o menino já aprendeu a ler em português e também tem tido bons resultados em matemática. Dos seis irmãos de Wilde, cinco também estudam na EC Café Sem Troco. “É uma família muito presente. O pai sempre manda mensagem perguntando como eles estão e avisa quando eles faltam”, acrescenta a professora Maria Janerrandra.


 


Além de gostar do acesso ao conhecimento, Wilde aponta a alimentação escolar como outro ponto favorito ao ir à escola. “Gosto muito da escola. Gosto de estudar matemática e gosto da comida. Meu prato favorito é a galinhada”, diz. “A grande diferença entre a nossa vida na Venezuela e no Brasil é que aqui temos dinheiro e alimentação”, completa.


O cacique Eduardo Baez diz que foi necessário vir para o Brasil para ter mais qualidade de vida. “Estamos vivendo melhor. Há alimentação, educação. A educação é muito importante para que eles aprendam, tenham um futuro”, afirma


 


Para o cacique da comunidade Warao Coromoto, Eduardo Baez, a oportunidade que as crianças estão tendo no Brasil de acesso à educação tem sido de extrema importância. “A nossa vida no Brasil é muito boa. Fomos obrigados a sair da Venezuela por causa da escassez. Não havia medicamentos. Não havia mais comida. Não aguentamos mais. Então decidimos por iniciativa própria vir para o Brasil e tem sido muito bom. Estamos vivendo melhor. Há alimentação, educação. A educação é muito importante para que eles aprendam, tenham um futuro. Queremos que eles possam ter carreiras de alto nível, quem saber, serem professores”, deseja.


 


Rede de proteção integrada

 


A rede de proteção aos migrantes envolve várias pastas do GDF. A Secretaria de Educação conta com a Política Distrital de Proteção e Direito de Matrícula de Crianças Migrantes, Refugiadas, Apátridas e Solicitantes de Refúgio , que garante o direito à matrícula imediata de crianças migrantes e refugiadas de 4 meses a 6 anos em creches e escolas públicas, mesmo sem documentação completa.


 


A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) é responsável pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) Migrantes. Localizado no Setor Bancário Norte, o equipamento atende famílias e indivíduos que sofrem violação de direitos em razão da questão migratória, auxiliando na documentação, concedendo benefícios e dando suporte nas áreas de empregabilidade e educação.


 


A Secretaria de Justiça e Cidadania, por exemplo, atua por meio da Gerência de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Apoio ao Migrante (Getpam), com ações como o projeto Vivência Delas, voltado à escuta qualificada de mulheres imigrantes, e o Cidadania nas Escolas, que combate a xenofobia por meio de palestras e formação.


 


Já a Secretaria de Saúde elaborou o Guia de Acolhimento aos Migrantes, Refugiados e Apátridas nos Serviços de Saúde do DF, que orienta os estrangeiros sobre como acessar o Sistema Único de Saúde (SUS) e seus serviços.


 


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Lenacapavir: entenda o diferencial do tratamento para prevenir o HIV

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Estima-se que quase 40 milhões de pessoas vivem com o vírus HIV no mundo. Só em 2023, 1,3 milhão de novos casos foram identificados, segundo as estimativas mais recentes do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). Apesar dos avanços no tratamento nas últimas quatro décadas, novas estratégias se fazem necessárias.


A mais nova promessa é o lenacapavir, aprovado em junho pela Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, como mais uma alternativa de profilaxia pré-exposição (PrEP) ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da aids. A decisão foi tomada após análise de dois ensaios clínicos de fase 3 que apontaram uma eficácia de 99,9% na prevenção da infecção.



Desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences, sediada nos EUA, o lenacapavir já era comercializado no país norte-americano desde 2022, mas indicado apenas para pessoas infectadas com resistência a antirretrovirais comuns.


O medicamento atua por um mecanismo diferente: enquanto a maioria dos antirretrovirais interfere na produção do material genético do HIV, o lenacapavir impede a formação do chamado capsídeo, estrutura que guarda o RNA do vírus e possibilita sua entrada no interior das células. Ao bloquear esse processo, o HIV é impedido de se replicar, o que mantém a infecção controlada.


Projetado para ser armazenado no tecido adiposo do usuário (sobretudo no abdômen, onde a injeção é geralmente aplicada), o lenacapavir é liberado de forma lenta no organismo, garantindo sua ação por até seis meses. Após esse período, é necessária apenas uma nova aplicação para manter o efeito protetor.


Diante dos bons resultados no tratamento, a Gilead decidiu testar o medicamento também como ferramenta de prevenção. Cinco ensaios clínicos estão em andamento, sendo que dois deles – PURPOSE 1 e PURPOSE 2 – já apresentaram resultados preliminares.


1 de 13

HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O causador da aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida

Arte Metrópoles/Getty Images
2 de 13

A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids

Anna Shvets/Pexels
3 de 13

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico

Hugo Barreto/Metrópoles
4 de 13

O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas

iStock
5 de 13

O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais

iStock
6 de 13

Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

Hugo Barreto/Metrópoles
7 de 13

A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos

Arthur Menescal/Especial Metrópoles
8 de 13

O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus

Arthur Menescal/Especial Metrópoles
9 de 13

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus

spukkato/iStock
10 de 13

O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses

iStock
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O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais

Joshua Coleman/Unsplash
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Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV

iStock
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É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo




Keith Brofsky/Getty Images

O PURPOSE 1 acompanhou 2.134 mulheres cisgênero na África do Sul e em Uganda, com eficácia de 100% na prevenção do HIV entre as voluntárias. Já o PURPOSE 2 incluiu 2.179 homens e mulheres nos EUA, Argentina, México, Peru, Porto Rico, África do Sul, Tailândia e Brasil, e registrou apenas dois casos de infecção pelo HIV, indicando eficácia de 99,9%.


“A grande vantagem do lenacapavir é a sua posologia . A adesão ao tratamento preventivo é facilitada, à medida que ele exige apenas duas doses de uma injeção, espaçadas por seis meses cada”, explica o infectologista Moacyr Silva Junior, do Einstein Hospital Israelita. “A PrEP usual depende que o usuário tome um comprimido diário para se manter protegido. Caso a pessoa esqueça ou não consiga tomar sua dose, ela pode ficar mais suscetível à infecção”.

O médico destaca, no entanto, que os estudos utilizados pela FDA contam com uma amostra relativamente pequena. “É possível que, em uma aplicação populacional real, essa taxa de eficiência seja um pouco menor do que os 99,9% obtidos nos ensaios”, alerta.


Chegada do lenacapavir ao Brasil


O lenacapavir ainda não está disponível no mercado nacional. No último dia 3 de abril, a Gilead divulgou que havia enviado o pedido de registro à Anvisa. Em nota enviada à Agência Einstein, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse: “Existem dois pedidos de registro de produto contendo o referido ativo. Um na forma farmacêutica solução injetável e o outro na forma farmacêutica de comprimidos.”


Embora ambos os usos estejam sendo tratados como “prioritários”, a solicitação inicial para o lenacapavir não incluía a indicação como PrEP. Isso significa que a decisão sobre a ampliação do uso para a profilaxia pré-exposição poderá levar mais tempo do que a liberação para pacientes com histórico de tratamento intensivo e resistência a múltiplas classes de antirretrovirais, já que a análise só poderá avançar após o registro ser concedido.


Para Moacyr Silva, a aprovação do lenacapavir por aqui é apenas uma questão de tempo. “O Brasil tem um programa de IST/Aids bastante robusto, então, acredito que esse produto deve chegar em breve no nosso rol de medicamentos tanto para uso no coquetel de tratamento quanto para a prevenção do vírus”, afirma o infectologista.


Desde 2018, a PrEP é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mediante acompanhamento médico regular. Dados do Painel PrEP, do Ministério da Saúde, mostram que cerca de 165.473 pessoas utilizaram pelo menos uma dose dos medicamentos preventivos em 2024. Para efeito de comparação, em 2020 esse número era de 26.585, o que representa um aumento de 522%.


O número de municípios que oferecem a PrEP também cresceu: em 2020, 177 cidades disponibilizavam os medicamentos preventivos; quatro anos depois, já eram 659. Embora a maioria dos usuários sejam homens cisgênero homoafetivos (81%), a PrEP também é utilizada por homens cis heterossexuais (7,9%), mulheres cis (6,1%), mulheres trans (2,7%) e homens trans (1,6%). Em relação à faixa etária, o grupo predominante está entre 30 e 39 anos (42,3%), seguido por pessoas de 25 a 29 anos (22,2%) e de 40 a 49 anos (18%).


Preço é ponto de atenção


Uma das preocupações em relação ao lenacapavir é o preço do medicamento. Em reportagem publicada no último dia 18 de junho, o The New York Times revelou que a profilaxia pré-exposição com a droga terá o valor de US$ 28.218 nos Estados Unidos, segundo informou a Gilead ao jornal.


Contudo, em nota divulgada na mesma data, a fabricante disse que, nos EUA, “está trabalhando em estreita colaboração com seguradoras, sistemas de saúde e outros pagadores com o objetivo de garantir uma ampla cobertura de seguro para o Yeztugo . Em comunicado, o Unaids ressalta que, por mais revolucionário que seja, o produto precisa ser acessível à população para garantir uma chance real de acabar com o vírus.


Há, no entanto, caminhos para contornar esse impasse. “É comum que, logo que uma medicação nova surge, seu valor de produção seja bastante elevado. Por isso, também é uma prática comum investir na sua quebra de patente, permitindo o desenvolvimento de medicamentos genéricos, de valor mais acessível”, observa o especialista do Einstein. No Brasil, isso já foi feito no passado com o antirretroviral efavirenz.


Um estudo ainda não revisado por pares divulgado pela revista The Lancet indica que versões genéricas do lenacapavir poderiam reduzir o preço anual por pessoa para valores entre US$ 35 e US$ 46. O avanço na tecnologia de produção e o aumento da demanda poderiam ainda baixar o custo para US$ 25 por pessoa ao ano.


“Junto das estratégias de prevenção combinada, como o uso de preservativos e as testagens regulares, a PrEP revolucionou o combate ao HIV e à aids. Por isso, acredito que a adição do lenacapavir pode ser bastante promissora na redução do problema e na promoção do bem-estar daqueles que convivem com a infecção”, avalia Moacyr Silva.

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Lenacapavir: entenda o diferencial do tratamento para prevenir o HIV

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Estima-se que quase 40 milhões de pessoas vivem com o vírus HIV no mundo. Só em 2023, 1,3 milhão de novos casos foram identificados, segundo as estimativas mais recentes do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). Apesar dos avanços no tratamento nas últimas quatro décadas, novas estratégias se fazem necessárias.


A mais nova promessa é o lenacapavir, aprovado em junho pela Food and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, como mais uma alternativa de profilaxia pré-exposição (PrEP) ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da aids. A decisão foi tomada após análise de dois ensaios clínicos de fase 3 que apontaram uma eficácia de 99,9% na prevenção da infecção.



Desenvolvido pela farmacêutica Gilead Sciences, sediada nos EUA, o lenacapavir já era comercializado no país norte-americano desde 2022, mas indicado apenas para pessoas infectadas com resistência a antirretrovirais comuns.


O medicamento atua por um mecanismo diferente: enquanto a maioria dos antirretrovirais interfere na produção do material genético do HIV, o lenacapavir impede a formação do chamado capsídeo, estrutura que guarda o RNA do vírus e possibilita sua entrada no interior das células. Ao bloquear esse processo, o HIV é impedido de se replicar, o que mantém a infecção controlada.


Projetado para ser armazenado no tecido adiposo do usuário (sobretudo no abdômen, onde a injeção é geralmente aplicada), o lenacapavir é liberado de forma lenta no organismo, garantindo sua ação por até seis meses. Após esse período, é necessária apenas uma nova aplicação para manter o efeito protetor.


Diante dos bons resultados no tratamento, a Gilead decidiu testar o medicamento também como ferramenta de prevenção. Cinco ensaios clínicos estão em andamento, sendo que dois deles – PURPOSE 1 e PURPOSE 2 – já apresentaram resultados preliminares.


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HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. O causador da aids ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida

Arte Metrópoles/Getty Images
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A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a aids

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Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico

Hugo Barreto/Metrópoles
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O uso regular dos ARV é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV e reduzir o número de internações e infecções por doenças oportunistas

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O tratamento é uma combinação de medicamentos que podem variar de acordo com a carga viral, estado geral de saúde da pessoa e atividade profissional, devido aos efeitos colaterais

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Em 2021, um novo medicamento para o tratamento de HIV, que combina duas diferentes substâncias em um único comprimido, foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

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A empresa de biotecnologia Moderna, junto com a organização de investigação científica Iavi, anunciou no início de 2022 a aplicação das primeiras doses de uma vacina experimental contra o HIV em humanos

Arthur Menescal/Especial Metrópoles
8 de 13

O ensaio de fase 1 busca analisar se as doses do imunizante, que utilizam RNA mensageiro, podem induzir resposta imunológica das células e orientar o desenvolvimento rápido de anticorpos amplamente neutralizantes (bnAb) contra o vírus

Arthur Menescal/Especial Metrópoles
9 de 13

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças aprovou o primeiro medicamento injetável para prevenir o HIV em grupos de risco, inclusive para pessoas que mantém relações sexuais com indivíduos com o vírus

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O Apretude funciona com duas injeções iniciais, administradas com um mês de intervalo. Depois, o tratamento continua com aplicações a cada dois meses

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O PrEP HIV é um tratamento disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) feito especificamente para prevenir a infecção pelo vírus da Aids com o uso de medicamentos antirretrovirais

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Esses medicamentos atuam diretamente no vírus, impedindo a sua replicação e entrada nas células, por isso é um método eficaz para a prevenção da infecção pelo HIV

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É importante que, mesmo com a PrEP, a camisinha continue a ser usada nas relações sexuais: o medicamento não previne a gravidez e nem a transmissão de outras doenças sexualmente transmissíveis, como clamídia, gonorreia e sífilis, por exemplo




Keith Brofsky/Getty Images

O PURPOSE 1 acompanhou 2.134 mulheres cisgênero na África do Sul e em Uganda, com eficácia de 100% na prevenção do HIV entre as voluntárias. Já o PURPOSE 2 incluiu 2.179 homens e mulheres nos EUA, Argentina, México, Peru, Porto Rico, África do Sul, Tailândia e Brasil, e registrou apenas dois casos de infecção pelo HIV, indicando eficácia de 99,9%.


“A grande vantagem do lenacapavir é a sua posologia . A adesão ao tratamento preventivo é facilitada, à medida que ele exige apenas duas doses de uma injeção, espaçadas por seis meses cada”, explica o infectologista Moacyr Silva Junior, do Einstein Hospital Israelita. “A PrEP usual depende que o usuário tome um comprimido diário para se manter protegido. Caso a pessoa esqueça ou não consiga tomar sua dose, ela pode ficar mais suscetível à infecção”.

O médico destaca, no entanto, que os estudos utilizados pela FDA contam com uma amostra relativamente pequena. “É possível que, em uma aplicação populacional real, essa taxa de eficiência seja um pouco menor do que os 99,9% obtidos nos ensaios”, alerta.


Chegada do lenacapavir ao Brasil


O lenacapavir ainda não está disponível no mercado nacional. No último dia 3 de abril, a Gilead divulgou que havia enviado o pedido de registro à Anvisa. Em nota enviada à Agência Einstein, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) disse: “Existem dois pedidos de registro de produto contendo o referido ativo. Um na forma farmacêutica solução injetável e o outro na forma farmacêutica de comprimidos.”


Embora ambos os usos estejam sendo tratados como “prioritários”, a solicitação inicial para o lenacapavir não incluía a indicação como PrEP. Isso significa que a decisão sobre a ampliação do uso para a profilaxia pré-exposição poderá levar mais tempo do que a liberação para pacientes com histórico de tratamento intensivo e resistência a múltiplas classes de antirretrovirais, já que a análise só poderá avançar após o registro ser concedido.


Para Moacyr Silva, a aprovação do lenacapavir por aqui é apenas uma questão de tempo. “O Brasil tem um programa de IST/Aids bastante robusto, então, acredito que esse produto deve chegar em breve no nosso rol de medicamentos tanto para uso no coquetel de tratamento quanto para a prevenção do vírus”, afirma o infectologista.


Desde 2018, a PrEP é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mediante acompanhamento médico regular. Dados do Painel PrEP, do Ministério da Saúde, mostram que cerca de 165.473 pessoas utilizaram pelo menos uma dose dos medicamentos preventivos em 2024. Para efeito de comparação, em 2020 esse número era de 26.585, o que representa um aumento de 522%.


O número de municípios que oferecem a PrEP também cresceu: em 2020, 177 cidades disponibilizavam os medicamentos preventivos; quatro anos depois, já eram 659. Embora a maioria dos usuários sejam homens cisgênero homoafetivos (81%), a PrEP também é utilizada por homens cis heterossexuais (7,9%), mulheres cis (6,1%), mulheres trans (2,7%) e homens trans (1,6%). Em relação à faixa etária, o grupo predominante está entre 30 e 39 anos (42,3%), seguido por pessoas de 25 a 29 anos (22,2%) e de 40 a 49 anos (18%).


Preço é ponto de atenção


Uma das preocupações em relação ao lenacapavir é o preço do medicamento. Em reportagem publicada no último dia 18 de junho, o The New York Times revelou que a profilaxia pré-exposição com a droga terá o valor de US$ 28.218 nos Estados Unidos, segundo informou a Gilead ao jornal.


Contudo, em nota divulgada na mesma data, a fabricante disse que, nos EUA, “está trabalhando em estreita colaboração com seguradoras, sistemas de saúde e outros pagadores com o objetivo de garantir uma ampla cobertura de seguro para o Yeztugo . Em comunicado, o Unaids ressalta que, por mais revolucionário que seja, o produto precisa ser acessível à população para garantir uma chance real de acabar com o vírus.


Há, no entanto, caminhos para contornar esse impasse. “É comum que, logo que uma medicação nova surge, seu valor de produção seja bastante elevado. Por isso, também é uma prática comum investir na sua quebra de patente, permitindo o desenvolvimento de medicamentos genéricos, de valor mais acessível”, observa o especialista do Einstein. No Brasil, isso já foi feito no passado com o antirretroviral efavirenz.


Um estudo ainda não revisado por pares divulgado pela revista The Lancet indica que versões genéricas do lenacapavir poderiam reduzir o preço anual por pessoa para valores entre US$ 35 e US$ 46. O avanço na tecnologia de produção e o aumento da demanda poderiam ainda baixar o custo para US$ 25 por pessoa ao ano.


“Junto das estratégias de prevenção combinada, como o uso de preservativos e as testagens regulares, a PrEP revolucionou o combate ao HIV e à aids. Por isso, acredito que a adição do lenacapavir pode ser bastante promissora na redução do problema e na promoção do bem-estar daqueles que convivem com a infecção”, avalia Moacyr Silva.

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